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Há uns quatro meses, eu e o meu
marido fomos passar uns dias na praia de Pipa, no Rio Grande do Norte. Um
lugar deslumbrante, com paisagens de tirar o fôlego, desses destinos que
despertam no fundo da alma aquela vontadezinha de largar tudo e ir morar lá. Conversando
com a recepcionista do hotel em que estávamos hospedados, descobrimos que ela e
o marido eram advogados e haviam feito exatamente isso. Deixaram para trás a
vida estressante que tinham em São Paulo (ela trabalhava em um escritório e ele
estudava para prestar concurso público) e foram residir neste paraíso.
Quando ouvimos este tipo de
história, inevitavelmente, é despertado em nós um sentimento de admiração
combinado com uma pontinha de inveja de quem tomou tal atitude. Mais tarde, no
mesmo dia, ainda com esse sentimento pairando no ar, o Bernardo fez o seguinte
comentário: “é muita coragem largar tudo e vir viver aqui”. Apesar de não
discordar da afirmação dele, comecei a refletir sobre o oposto: é também muita
coragem ficar.
Não faço aqui nenhuma crítica a
quem ouve a voz de um sonho e muda totalmente sua realidade, significando isso mudar
de cidade, profissão ou abandonar qualquer condição pré-estabelecida e que
aparentemente é imutável. Entretanto, é preciso também muita coragem para enfrentar
os problemas do dia a dia a cada manhã, arregaçar as mangas, levantar a cabeça
e seguir em frente.
É preciso mais coragem ainda para
se encarar, para identificar, ouvir e compreender seus medos mais escondidos, suas
vergonhas mais assustadoras e, sem ficar entorpecido por tais sentimentos,
permanecer no combate... Continuar mesmo sabendo que somos imperfeitos, que
nunca atingiremos a perfeição e nos amar por sermos desse jeito.
Mudar de cidade, de país, de
faculdade, de emprego, de namorado, de grupo de amigos pode contribuir muito
para sermos mais leves, mais livres e por que não mais felizes. Não há dúvidas
que o ambiente a nossa volta nos afeta e influencia diretamente nosso grau de
felicidade. Além disso, mudanças dessa natureza, inquestionavelmente, podem ser
os gatilhos que tanto precisamos para iniciar um caminho de descoberta de nós
mesmos.
Quando olho para trás, vejo que ter
ido morar fora do país, mudar da minha cidade natal após a faculdade, mudar por
duas vezes o rumo da minha carreira foi de extrema importância para meu
amadurecimento e para que eu compreendesse melhor meus desejos e anseios. Foram
tais mudanças que me deram fôlego para continuar a caminhada, que abriram meus
olhos para novas possibilidades e renovaram
minhas forças e esperanças.
Contudo, de nada adianta mudar
aquilo que nos incomoda no exterior sem remexer verdadeiramente nos nossos
entulhos e caminhos internos. É preciso compreender e, principalmente, se apropriar dos nossos desejos, dos
nossos medos e dúvidas.
Por um tempo, pode até parecer
que a situação foi resolvida com a mudança ambiental e aquilo que nos
incomodava pode ser abafado momentaneamente... Todavia quando menos esperarmos,
quando algo começar a nos atormentar – pois seja em Pipa, em Nova Iorque ou na
Austrália, seja no emprego dos nossos sonhos, seja com o amor da nossa vida haverá
problemas e desconfortos – esses temas voltam a nos causar chateação. Algumas
vezes voltam de forma menos sútil que anteriormente, nos forçando a parar e a
entender que o problema inicial talvez nem fosse aquele chefe chato ou a cidade
onde morávamos. Pode ser que “a nossa pedrinha no sapato” tivesse muito mais a
ver com nossas arquiteturas internas e nossa maneira de lidar com as situações
do que poderíamos imaginar.
Que possamos sempre ter a coragem de seguir em frente e principalmente a coragem de
ser feliz, seja morando em São Paulo, em Pipa ou no Japão.
Raquel mas uma vez um texto muito lindo e certo sobre o comportamento humano, sim falar dos medos, da coragem, de mudar e deixar tudo para trás, mas como?? A coragem de mudar não envolve só sua vontade, envolve as pessoas que estão a sua volta, o apego as pessoas o torna escravo de suas vontades, o medo de desapontar, o medo do arrependimento, tudo isto é levado em consideração ao tomar uma atitude, tudo o medo fala mais alto. A mudança tem que vir de dentro, o desapego, mas estes estão bem guardados dentro de uma caixinha em nosso coração e nem sempre conseguimos achar a chave para abri-las. Não, o amor, o apego a falta que as pessoas farão em sua vida, o medo de se frustar, tudo isto o impede de sair a procura do paraiso, que talvez só exista nos contos de fada, e seguindo este raciocínio quem sabe um dia eu não viva um hakuna Matata. srsr bjs
ResponderExcluirwut
ExcluirAcho que foi um tapa na minha cara, no bom sentido!
ResponderExcluir=)
Lindo texto, daqueles em que vc acredita mesmo que tem que parar para pensar.
Florzinha mais linda da minha vida :)
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