segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Acima do bem e do mal - Por que julgamos tanto?

Foto: reprodução web
No bar, num papo despretensioso com as amigas, vem à tona a noticia acerca de uma blogueira que se separou do marido e começou a ser condenada cruelmente por alguns e defendida veementemente por outros que a seguem.

A discussão voltou-se então para como alguém se sente no direito de julgar uma relação que não deu certo (e uma suposta traição)? A começar que ninguém sabe realmente o que aconteceu, e mesmo que soubessem, fossem pessoas próximas ao casal (o que claramente não era o caso nos comentários de quem se sentia no direito e na necessidade de expressar sua opinião), só os dois sabem o que se passava entre quatro paredes e, mais ainda, cabe apenas a cada um deles compreender o que carregam dentro de si, nos pensamentos e no coração.

Eu sempre fico abismada com a facilidade e autoridade que temos em julgar os outros. É curioso como julgamos tudo o tempo todo. Julgamos a aparência, as escolhas profissionais, os amores, a religião... Dotados de uma verdade suprema, nos colocamos acima do bem e do mal e imprimimos nossa sentença. Temos a convicção que possuímos as informações necessárias e suficientes para condenar algo ou alguém não importando se fazemos isso com a nossa régua, com o nosso ponto de vista, com o nosso coração.

Um dia desses li uma postagem no facebook em que a pessoa julgava a fé de outras pessoas (não se tratava dos aspectos práticos da religião, era a fé mesmo, a proximidade das pessoas com Deus). Passei então a imaginar o medidor de fé. Provavelmente era um quadro em que mostra os pontos que você acumulou por sua fé, tudo isso controlado por São Pedro e revisado semanalmente por Deus. Tal publicação ainda vinha acompanhada de um: “não estou falando que sou perfeito, mas quando erro, reconheço”. Isso é óbvio, não? Uma vez que eu mesmo que faço as regras, eu sei exatamente quando errei. Erros e acertos comportamentais se tornam verdades absolutas, sendo uma tarefa fácil decidir quem é culpado e quem é inocente. Entretanto, quando EU sou o réu, aí a história é outra, me apego a algumas jurisprudências e dou uma ajustadinha nas regras, afinal o meu caso era diferente, existem os motivos “a “ e “b”, que ninguém conhece, mas eu sei bem quais são ...

Talvez o prazer em julgar seja o de por alguns instantes nos sentirmos Deus, nos sentirmos superior ao outro, e em um mundo onde se procura o tempo todo ser melhor para postar algo no Instagram e causar inveja (seja por qual motivo for), esses momentos de superioridade são de extremo valor. Talvez ainda, num tempo que carregamos dentro de nós a exigência de sermos perfeitos, seja essa uma forma de nos aliviarmos de tanta culpa e pressão. Quando apontamos o dedo para alguém, esse alguém também não é perfeito, e pelo menos em alguns momentos ou características podemos nos orgulhar de sermos melhores que ele...

E tem a cereja do bolo, depois de sentir esse gostinho de estar um andar acima de algo ou alguém, é possível POSTAR uma frase de efeito dessas que inundam nossa visão todos os dias. É só lançar mão de algo do tipo “posso não ser perfeito, mas pelo menos não sou hipócrita” e correr para o abraço.

A famosa empatia (segundo o Aurélio, Empatia - s.f. Psicologia e Filosofia Faculdade de perceber de que modo uma pessoa pensa ou sente), não é algo difícil, é simplesmente IMPOSSÍVEL. Mesmo que nos esforcemos para pensar como o outro, e sentir da mesma maneira, será uma missão fadada ao fracasso. Os pensamentos e sentimentos do outro que, por sua vez irão refletir diretamente em suas atitudes, são moldados por uma bagagem ÚNICA, INDIVIDUAL e não podem ser reproduzidos em outro alguém. Brené Brown se refere à empatia em seu livro (A Coragem de ser imperfeito) como a capacidade de se conectar, de se solidarizar com o outro. Gosto bem mais desse conceito, pois se trata do oposto do julgamento ou juízo de valor.
Deixemos, portanto, o julgamento para os cidadãos “investido de autoridade pública com o poder para exercer a atividade jurisdicional” - definição da wikipedia para juiz. Fiquemos nós com a missão de conhecer, amar, se surpreender com o ser humano...
“O juízo moral, da mesma forma que o religioso, corresponde a um grau de ignorância ao qual ainda falta o conceito do real, a distinção entre o real e o imaginário Friedrich Nietzsche, in "Crepúsculo dos Ídolos"
“Quem julga as pessoas não tem tempo para amá-las” Madre Teresa de Calcutá.

 

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