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A discussão voltou-se então para como alguém se sente no direito
de julgar uma relação que não deu certo (e uma suposta traição)? A começar que
ninguém sabe realmente o que aconteceu, e mesmo que soubessem, fossem pessoas
próximas ao casal (o que claramente não era o caso nos comentários de quem se
sentia no direito e na necessidade de expressar sua opinião), só os dois sabem
o que se passava entre quatro paredes e, mais ainda, cabe apenas a cada um
deles compreender o que carregam dentro de si, nos pensamentos e no coração.
Eu sempre fico abismada com a
facilidade e autoridade que temos em julgar os outros. É curioso como julgamos
tudo o tempo todo. Julgamos a aparência, as escolhas profissionais, os amores,
a religião... Dotados de uma verdade suprema, nos colocamos acima do bem e do
mal e imprimimos nossa sentença. Temos a convicção que possuímos as informações
necessárias e suficientes para condenar algo ou alguém não importando se
fazemos isso com a nossa régua, com o nosso ponto de vista, com o nosso
coração.
Um dia desses li uma postagem no
facebook em que a pessoa julgava a fé de outras pessoas (não se tratava dos
aspectos práticos da religião, era a fé mesmo, a proximidade das pessoas com
Deus). Passei então a imaginar o medidor de fé. Provavelmente era um quadro em
que mostra os pontos que você acumulou por sua fé, tudo isso controlado por São
Pedro e revisado semanalmente por Deus. Tal publicação ainda vinha acompanhada
de um: “não estou falando que sou perfeito, mas quando erro, reconheço”. Isso é
óbvio, não? Uma vez que eu mesmo que faço as regras, eu sei exatamente quando
errei. Erros e acertos comportamentais se tornam verdades absolutas, sendo uma
tarefa fácil decidir quem é culpado e quem é inocente. Entretanto, quando EU
sou o réu, aí a história é outra, me apego a algumas jurisprudências e dou uma
ajustadinha nas regras, afinal o meu caso era diferente, existem os motivos “a
“ e “b”, que ninguém conhece, mas eu sei bem quais são ...
Talvez o prazer em julgar seja o
de por alguns instantes nos sentirmos Deus, nos sentirmos superior ao outro, e em
um mundo onde se procura o tempo todo ser melhor para postar algo no Instagram e causar inveja (seja por qual
motivo for), esses momentos de superioridade são de extremo valor. Talvez
ainda, num tempo que carregamos dentro de nós a exigência de sermos perfeitos,
seja essa uma forma de nos aliviarmos de tanta culpa e pressão. Quando
apontamos o dedo para alguém, esse alguém também não é perfeito, e pelo menos
em alguns momentos ou características podemos nos orgulhar de sermos melhores
que ele...
E tem a cereja do bolo, depois de
sentir esse gostinho de estar um andar acima de algo ou alguém, é possível
POSTAR uma frase de efeito dessas que inundam nossa visão todos os dias. É só
lançar mão de algo do tipo “posso não ser perfeito, mas pelo menos não sou
hipócrita” e correr para o abraço.
A famosa empatia (segundo o Aurélio, Empatia - s.f. Psicologia e Filosofia Faculdade de perceber de que modo uma pessoa pensa ou sente), não é algo difícil, é simplesmente IMPOSSÍVEL. Mesmo que nos esforcemos para pensar como o outro, e sentir da mesma maneira, será uma missão fadada ao fracasso. Os pensamentos e sentimentos do outro que, por sua vez irão refletir diretamente em suas atitudes, são moldados por uma bagagem ÚNICA, INDIVIDUAL e não podem ser reproduzidos em outro alguém. Brené Brown se refere à empatia em seu livro (A Coragem de ser imperfeito) como a capacidade de se conectar, de se solidarizar com o outro. Gosto bem mais desse conceito, pois se trata do oposto do julgamento ou juízo de valor.
Deixemos, portanto, o julgamento para os cidadãos “investido de autoridade pública com o poder para exercer a atividade jurisdicional” - definição da wikipedia
para juiz. Fiquemos nós com a missão de conhecer, amar, se surpreender com o
ser humano...
“O juízo moral, da mesma
forma que o religioso, corresponde a um grau de ignorância ao qual ainda falta
o conceito do real, a distinção entre o real e o imaginário Friedrich Nietzsche, in
"Crepúsculo dos Ídolos"
“Quem julga as
pessoas não tem tempo para amá-las” Madre Teresa de Calcutá.
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