De um tempo pra cá, tem chovido
artigos na minha timeline do Facebook do tipo: “10 coisas que os casais felizes
fazem”, “6 atitudes de pessoas bem sucedidas”, “12 maneiras de ser feliz com
você mesmo”, “ 7 hábitos das pessoas magras”. Já li vários deles, acredito que
alguns tenham insights bem interessantes e que muitas vezes essa estratégia (“a
das x coisas blá blá blá”) é usada como forma de atrair a atenção dos leitores.
O que me incomoda, no entanto, é que esse excesso de listas das atitudes ideais
demonstra como esquecemos o fato do ser humano ser único, cheio de particularidades.
É necessário ficar todo o tempo colocando as pessoas em caixinhas, ou melhor,
neste caso, em listinhas.
imagem: reprodução web |
Faço, portanto, uma reflexão: faz
sentido enxergarmos todas as questões individuais, com alto componente
emocional, como uma dor de garganta? Será que existem alguns antibióticos
capazes de tornar um casal feliz, fazer alguém bem sucedido profissionalmente
ou encontrar o amor da vida? é eficaz tratar só os sintomas e ignorar as causas?
depois de ler um texto deste tipo alguém se torna de fato mais feliz, rico ou magro? Provavelmente não.
Vivemos a era da cultura da
escassez. Todos os dias acordamos como se já estivéssemos devendo algo. Temos
mais coisas a fazer do que é possível e quando conseguimos fazer tudo, nunca
julgamos que fizemos da melhor maneira possível. Além de nos desdobrarmos desse
jeito é necessário ainda seguir os passos da listinha que nos ensina a ser
feliz?
Como falei acima, existe sim
alguns insights interessantes em tais textos. Contudo eles só são úteis quando
despertam em nós o desejo de nos conhecer mais profundamente e entender quais
são os reais motivadores das nossas ações. Passar todo o tempo colocando as
pessoas em caixinhas não só não irá resolver as questões mais complexas que
cada um carrega, como arrisco dizer que irá piorá-las. Esses “modelos ideais”
acabam por reforçar o sentimento de inadequação que paira sobre nossas vidas
nos dias de hoje.
Não existe receita perfeita para
ser bem sucedido profissionalmente, encontrar o amor da vida, emagrecer
(emagrecer não envolve somente fazer dieta e atividade física – aqui minha experiência) ... Existem diversos fatores não abordados na listinha e que
funcionarão de forma diferente para cada indivíduo. Nos inspirar em quem
conseguiu algo que almejamos é sim muito válido desde que carreguemos no coração
a leveza e a beleza de sermos únicos, sendo sempre capazes de nos amar e de
encontrar soluções próprias para os nossos dilemas e desafios.
Não nos esqueçamos das nuances.