sexta-feira, 28 de novembro de 2014

10 coisas que não irão te fazer mais feliz


De um tempo pra cá, tem chovido artigos na minha timeline do Facebook do tipo: “10 coisas que os casais felizes fazem”, “6 atitudes de pessoas bem sucedidas”, “12 maneiras de ser feliz com você mesmo”, “ 7 hábitos das pessoas magras”. Já li vários deles, acredito que alguns tenham insights bem interessantes e que muitas vezes essa estratégia (“a das x coisas blá blá blá”) é usada como forma de atrair a atenção dos leitores. O que me incomoda, no entanto, é que esse excesso de listas das atitudes ideais demonstra como esquecemos o fato do ser humano ser único, cheio de particularidades. É necessário ficar todo o tempo colocando as pessoas em caixinhas, ou melhor, neste caso, em listinhas. 

imagem: reprodução web
Os padrões têm a importante função de reduzir a variabilidade dos acontecimentos e assim encontrar a solução do problema mais rapidamente. Já pensou se toda vez que alguém apresentasse sintomas de uma infecção na garganta fosse necessária uma extensa investigação individual do paciente? Seria extremamente ineficiente. Por isso existe um padrão de tratamento relacionado a sintomas (também padrões) apresentados pelo indivíduo. Esse tratamento pode até ser ajustado de acordo com especificidades menos importantes de cada paciente, mas seguirá um modelo bem claro caso não haja outros complicadores aparentes.

Faço, portanto, uma reflexão: faz sentido enxergarmos todas as questões individuais, com alto componente emocional, como uma dor de garganta? Será que existem alguns antibióticos capazes de tornar um casal feliz, fazer alguém bem sucedido profissionalmente ou encontrar o amor da vida? é eficaz tratar só os sintomas e ignorar as causas? depois de ler um texto deste tipo alguém se torna de fato mais feliz, rico ou magro? Provavelmente não.

Vivemos a era da cultura da escassez. Todos os dias acordamos como se já estivéssemos devendo algo. Temos mais coisas a fazer do que é possível e quando conseguimos fazer tudo, nunca julgamos que fizemos da melhor maneira possível. Além de nos desdobrarmos desse jeito é necessário ainda seguir os passos da listinha que nos ensina a ser feliz?

Como falei acima, existe sim alguns insights interessantes em tais textos. Contudo eles só são úteis quando despertam em nós o desejo de nos conhecer mais profundamente e entender quais são os reais motivadores das nossas ações. Passar todo o tempo colocando as pessoas em caixinhas não só não irá resolver as questões mais complexas que cada um carrega, como arrisco dizer que irá piorá-las. Esses “modelos ideais” acabam por reforçar o sentimento de inadequação que paira sobre nossas vidas nos dias de hoje.

Não existe receita perfeita para ser bem sucedido profissionalmente, encontrar o amor da vida, emagrecer (emagrecer não envolve somente fazer dieta e atividade física – aqui minha experiência) ... Existem diversos fatores não abordados na listinha e que funcionarão de forma diferente para cada indivíduo. Nos inspirar em quem conseguiu algo que almejamos é sim muito válido desde que carreguemos no coração a leveza e a beleza de sermos únicos, sendo sempre capazes de nos amar e de encontrar soluções próprias para os nossos dilemas e desafios.

Não nos esqueçamos das nuances.