Foto: reprodução web |
Hoje me aconteceu algo bastante
curioso. Conversando com uma pessoa que eu havia conhecido há alguns minutos e
que expunha uma condição de vulnerabilidade (veja não estou usando a palavra
fraqueza, e sim vulnerabilidade; se quiser saber de forma mais clara a
diferença, recomendo este vídeo) eu tentei ao máximo me colocar no lugar dela.
Como o assunto era a culpa ao comer e eu já estive em “lugares parecidos com este” algumas vezes, não foi uma tarefa muito difícil.
Ainda assim, ouvi com meu coração.
E em vez de julgar, criticar ou até mesmo pensar que já sabia a resposta,
tentei me conectar com o que ela sentia e falei algumas palavras de carinho e
acolhimento. De forma natural, sem pretensão. No final dessa breve interação
ela agradeceu a conversa e me perguntou: Você é psicóloga? Soltei uma risada
natural e disse: não, engenheira! Ela também sorriu e agradeceu mais uma vez.
No entanto, esse questionamento, aparentemente
bobo, me fez refletir porque é tão raro conseguirmos acolher verdadeiramente a
dor e os sentimentos alheios, nos conectar por inteiro com o outro. Essa dificuldade faz com que, nas raras vezes
que conseguimos, quem é amparado se sinta grato mas ao mesmo tempo admirado.
“Deve ser um profissional no assunto, não um ser humano ‘qualquer’”.
Eu também não tenho a resposta,
não sei porque é tão árduo alcançar o coração alheio de forma real, suave e
afetuosa. Acredito, porém, que a resposta passe pelo fato de não sermos
capazes, em diversas situações, de acolhermos a nós mesmos e lidar com nossas
próprias incertezas, angústias e dores. Sendo assim, é melhor ignorar, engolir
seco e seguir em frente, pois acolher o outro pode significar ter que me
encarar de frente, me despir, e isso já não sei se estou disposta,
principalmente por não saber onde posso chegar.
Talvez falte leveza no olhar.
Falte a percepção dos fatos como acontecimentos e não como causas de um
tribunal que esperam julgamento. Acolher o outro é ouvir com o coração sem
ficar preocupado em encontrar culpados na fala alheia. Não é necessário colocar
os fatos em caixinhas de certo e errado. É abraçar o coração da outra pessoa
sem exigir dela ao abraço de volta ou uma justificativa. Esse amparo pode ser
por meio de palavras ou num “formato físico”, como um abraço, um carinho. Qualquer
gesto de apoio e amor que demonstre ao outro que o valor dele é muito maior que
qualquer frustração ou dor daquele momento. É como aquele abraço dado a uma
criança que acabou de machucar seus joelhos, precisa de sentimento e entrega,
não necessariamente de entendimento...
Acolher a nós mesmos segue passos
muito parecidos. Começa por sermos verdadeiramente gentis conosco. Afastar qualquer
culpa e repetir carinhosamente que, apesar do que nos traz desconforto ou
tristeza, temos sim muito valor e merecemos nosso próprio abraço para seguir em
frente.
O ato de acolher é reforçado nos
dois sentidos. Quando acolhemos o outro nos tornamos um pouco mais capazes de
abraçar a nós mesmos. E quando nos acolhemos, nos tornamos mais preparados para
nos conectar com o coração de outrem. Trata-se de um exercício que, como qualquer
outra coisa, por meio da prática, vamos nos aprimorando aos poucos. E como vale
a pena... A gratidão de quem se sentiu cuidado reflete imediatamente em que pôde
cuidar. E essa conexão é o próprio amor em uma de suas mais bonitas formas!
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